sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Guerreiros de Portugal

A seguinte informação foi tirada de: Estremoz - Recordar é viver 


O DESTEMIDO ANTÓNIO MARIA SEGURADO

Nasceu em Estremoz em 1812. Foi destinado pela família à vida religiosa, entrando no convento de S. Paulo, como eremita da Serra d'Ossa.

Daí passou para o convento de Portel. Aqui recebeu a notícia de que o exército libertador comandado pelo Duque de Terceira se apoderara de Lisboa. Trocou, então, o escapulário pela escupeta, tendo fugido do convento, ocultando a sua simpatia dos maiorais dos monges que seguiam a causa absolutista.

Alistou-se no batalhão de Voluntários do Alentejo e pegou em armas para defender os direitos de D. Maria II na Corte, tendo tomado parte em vários combates até à assinatura da Convenção de Évora Monte.

Curiosamente, a Convenção foi assinada na casa dos seus pais.

Foi administrador do concelho de Évora Monte, para pôr fim aos abusos da Misericórdia local e foi mais tarde seu Provedor.

Foi também administrador da Casa de Bragança.

Castelo de Évora-Monte, Município de Estremoz. 

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Ushiro waza

 Morihiro Saito shihan demonstra várias técnicas de ushiro waza e explica em detalhe. 

[Durante um estágio no Caufield Dojo em Melbourne, Austrália]



Guerreiros de Portugal

 Texto publicado em:


aqui 


《Botafogo:

O Galeão Português que foi o mais poderoso navio do mundo na sua época

 

Tempos houve em que Portugal dominava os mares com os seus navios. Um dos mais famosos ficou conhecido pelo nome de “Botafogo”.

Um galeão é um navio que se distingue dos restantes navios do mesmo tipo pelo facto de possuir quatro mastros, de alto bordo, armado em guerra, frequentemente utilizado no transporte de cargas que possuíam alto valor na navegação oceânica entre os séculos XVI e XVIII.


O famoso galeão chamava-se "São João Baptista" , mas era mais conhecido pela sua alcunha de “Botafogo” foi na sua época o mais poderoso navio de guerra de todo o mundo.

Construído em 1534, tinha um deslocamento de cerca de 1000 toneladas e estava armado com 366 canhões com bocas de fogo de bronze, tendo por isso um tremendo poder de fogo.

Por esta razão tornou-se conhecido por “Botafogo” uma vez que quando os seus canhões disparavam a destruição total entre o inimigo era garantida. 


Este navio foi usado em inúmeras batalhas, tendo ficado famoso durante a conquista de Tunes. Quando Carlos V se lançou na conquista de Tunes, solicitou apoio naval a Portugal, e pediu especificamente o navio “Botafogo”.

Nessa batalha, o “Botafogo” era comandado pelo Infante D. Luís, irmão do Rei D. João III de Portugal e cunhado do Imperador Carlos V.



O navio “Botafogo” liderou o ataque a Tunes e foi com o seu forte esporão que se conseguiu quebrar as correntes do porto de La Goleta, que defendiam a entrada, permitindo assim que à armada cristã finalmente conseguisse conquistar a cidade de Tunes.



Um dos membros da tripulação deste galeão, chamava-se João Pereira de Sousa, e era um nobre da cidade de Elvas, tornou-se muito famoso porque era o principal responsável pela artilharia deste navio, e por causa disso ele ganhou a alcunha de o “Botafogo”, mais tarde esta alcunha foi incluída no seu apelido, passando assim o novo nome também aos seus descendentes.


Mais tarde, quando João Pereira de Sousa se estabeleceu no Brasil, recebeu da Coroa Portuguesa terras junto da baía de Guanabara, e estas terras passaram por causa disso a serem conhecidas como terras do “Botafogo”.

Nesse local nasceu um bairro com o apoio de João Pereira de Sousa "O Botafogo" 


A chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808, mudou totalmente a cidade e a vida de “Botafogo”.

De um pequeno bairro rural, transformou-se no local preferido dos nobres que procuravam este bairro para nele construirem as suas residências.

É por esta razão que existe até hoje um famoso bairro nobre na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro com o nome de “Botafogo” e também é inspirado daqui o nome do clube de futebol brasileiro "o Botafogo".》

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Guerreiros de Portugal

 Da Wikipédia:

MARCELINO DA MATA


Foi um dos fundadores e principais operacionais dos Comandos. Participou em 2412 operações militares durante 11 anos na Guerra Colonial, no teatro militar da Guiné, tendo sido o militar mais condecorado da História do Exército Português, com a maioria das condecorações a deverem-se a feitos heróicos em campanha. Entre as suas principais condecorações contam-se a Ordem Militar da Torre e Espada e 5 Cruzes de Guerra.[4]

Tendo nascido na Guiné Portuguesa⁣ mas lutado contra o PAIGC, com inovadoras técnicas de guerrilha, foi amplamente considerado como herói em Portugal[5][6] e traidor no país que surgiria da Guiné Portuguesa.[6][7][8]


Faleceu na Amadora em 11 de fevereiro de 2021, vítima de COVID-19. O seu funeral foi presidido por D. Rui ValérioBispo das Forças Armadas e contou com a presença do Presidente da República e dos Generais Chefes do Estado Maior das Forças Armadas e do Exército.






domingo, 7 de janeiro de 2024

Guerreiros de Portugal

Jaime Duarte de Almeida 

O artigo pode ser visto aqui.

O Cabo 80

Jaime Duarte de Almeida, o famoso Cabo 80, cumpriu comissões de serviço em Angola, Moçambique e na Guiné, onde participou em dezenas de operações. Reconhecidamente temerário, sempre indiferente ao perigo, pleno de reflexos o que aliado à sua resistência fisíca exemplar, tinha, não raras vezes, de ser controlado o seu ímpeto e voluntariedade, para não se expôr em demasia. Aliás, na Guiné, numa determinada operação, já referenciado pelo inimigo de outras batalhas, conhecedor da sua valentia e manuseamento da ML (Metralhadora Ligeira), pretendeu capturá-lo, tendo sido ouvidas indicações para tal com a indicação de estar sem munições.
O seu oferecimento para a Guiné, foi mesmo voluntário, já como 1ºCabo , e foi aqui que mais se distinguiu, como alguns trechos da Portaria do seu louvor da Cruz de Guerra de 2ª classe demonstram:

"Na operação “TUBARÃO”, que tomou parte como voluntário, quando do primeiro contacto com elementos IN, imediatamente correu para a frente da coluna onde com fogo eficaz protegeu a manobra de envolvimento do pelotão em que ia integrado, apesar da posição em que se encontrava estar a ser batida pelo fogo inimigo.
Na operação “ARGUS”, mais uma vez mostrou coragem, sangue frio e agressividade excecionais quando a sua seção manobrava debaixo de fogo inimigo, tendo abatido um elemento inimigo e possibilitado a captura da sua arma.
Noutra operação, apesar de ferido no primeiro contato com o inimigo, manifestou o desejo de prosseguir a operação até ao fim, contribuindo com a sua presença para manter o elevado moral dos seus camaradas, colaborando assim no êxito da missão, perfeitamente demostrado no número de elementos abatidos e quantidade de material capturado.
Às qualidades de combatente referidas, alia o Pcabo Para-quedista Jaime de Almeida, uma vontade de bem cumprir em todas as situações e dedicação às Tropas Para-quedistas patenteadas na longa permanência nas fileiras."

A sua famosa maneira de em pé, como apontador da ML, para obter mais rendimento da arma, era sempre dos primeiros na manobra e fogo do seu pelotão.
Mais tarde, viria a ser agraciado com outra Cruz de Guerra, de 3ª classe, da qual transcrevemos o louvor:

"Porque no decorrer da operação “JOVEM ZAGAL II” praticou actos demonstrativos de extraordinária coragem, rara decisão, serena energia debaixo de fogo, sangue frio, desprezo pelo perigo e ousadia com evidente risco da própria vida.
- Seguidamente protegeu o seu camarada até que fosse efectuada a reparação da avaria e após remuniciamento contribuiu decisivamente para pôr termo à emboscada.-
Na primeira fase da operação, em que tomou parte sem tal lhe competir e para a qual se ofereceu voluntariamente, tendo as nossas tropas sofrido uma emboscada em que o inimigo actuou com grandes efectivos e potencial de fogo e de que resultaram baixas para as NT este militar actuou decidida e energicamente, com extraordinária coragem e desprezo pelo perigo. Debaixo de intenso fogo e verificando que um seu camarada se encontrava com a arma encravada e prestes a ser capturado pelo inimigo, avançou decidida e ousadamente em sua direcção, apesar de só dispor de uma fita de metralhadora, conseguindo pô-lo em debandada depois de causar baixas. Seguidamente protegeu o seu camarada até que fosse efectuada a reparação da avaria e após remuniciamento contribuiu decisivamente para pôr termo à emboscada.
Ainda debaixo de intenso fogo adverso e verificando que um seu camarada atingido mortalmente se encontrava quase ao alcance do inimigo, deslocou-se até junto do seu corpo, indiferente ao perigo e com grave risco de vida, arrastando-o até à posição das NT demonstrando mais uma vez as sua excepcionais características de camaradagem, espírito de sacrifício e coragem.


Na segunda fase e tendo sido substituído conforme planeamento da operação, o destacamento de que fazia parte, manteve-se na operação, contribuindo decisivamente para o êxito obtido e de que resultou a morte de seis elementos inimigos e grande número de feridos e a captura de sete armas, entre as quais um RPG-2.
Encontrando-se as NT emboscadas num trilho e fazendo parte da equipa da vanguarda, verificou a aproximação de um grupo armado de cerca de 20 elementos procedendo o resto da coluna inimiga, e dos quais o primeiro elemento era portador de uma granada de mão pronta a ser accionada.

-Com decidida agressividade e ousadia lançou-se na perseguição dos restantes terroristas, mantendo continuamente um fogo cerrado, apesar do fogo de resposta feito pelos elementos do grosso da coluna IN.-

Demostrando extraordinária calma e sangue frio permitiu a sua aproximação a cerca de cinco metros, após o que se levantou no trilho abrindo fogo tendo abatido e ferido grande parte dos elementos inimigos, apesar de ter sido ferido ligeiramente por um estilhaço da granada lançada por elemento inimigo da vanguarda.
Com decidida agressividade e ousadia lançou-se na perseguição dos restantes terroristas, mantendo continuamente um fogo cerrado, apesar do fogo de resposta feito pelos elementos do grosso da coluna IN.
Pela sua acção de excepção, que contribuiu decisivamente para o êxito obtido e pelas qualidades de rara valentia, coragem, decisão, espírito de camaradagem e abnegação, evidenciadas e confirmativas de anteriores feitos, o 1º. Cabo Para-quedista nº 85/RD ALMEIDA demonstrou excepcional valor de combatente nato, honrado e ilustrando as Forças Armadas e as Tropas Para-quedistas e afirmando virtudes extraordinárias."



*Foto: junto ao General Spínola, o Cabo 80 ao centro, ao seu lado esquerdo, é visível o Capitão Terras Marques, Comandante da Companhia 122.

Mais aqui.


sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Entrevista com Lewis de Quirós

 Lembram-se do Lewis de Quirós? 

Aqui está uma entrevista com ele.



Uma entrevista com Sensei de Quiros - Aprender e ensinar Aikido

Aqui, recordamos uma entrevista entre o Aikidojo Zaragoza e Lewis Bernaldo de Quiros (traduzida do espanhol) onde Sensei de Quiros explora aspectos da aprendizagem e do ensino do Aikido. Reproduzido do sítio Web do Takemusu Aikido Motril (https://aikidotradicional.eu/entrevista/). 



Aikidojo Zaragoza: Sabemos que está muito ocupado com os seus seminários e com a sua preparação, por isso, antes de mais, obrigado pelo tempo que nos concede. Importas-te de nos contar um pouco sobre os teus passos nas artes marciais?

Lewis: Desde criança que me interesso muito por artes marciais e pela cultura japonesa. Comecei a praticar Judo aos 13 anos e depois continuei a treinar Karaté (Shotokan) com Keinosuke Enoeda Sensei em Londres até aos 17 anos. Aos 23 anos, comecei a praticar Aikido e também Kyudo.

Aikidojo Zaragoza: Porquê o Aikido? Como é que esta arte marcial se tornou o teu estilo preferido?

Lewis: O meu primeiro contacto com Saito Morihiro Sensei e com o Aikido foi quando vi uma demonstração de jiyu waza com Hiroki Nemoto Sensei, um aluno avançado dele, como uke. Os ataques eram claramente fortes e concentrados, mas Sensei [Morihiro Saito] movia-se de uma forma que eu nunca tinha visto antes. Nemoto Sensei estava a atacar, mas ao "entrar" na área de impacto do Sensei, já se tinha movido de tal forma que o ataque foi neutralizado e o atacante ficou claramente sob o controlo de Saito. Nessa altura, eu estava um pouco "obcecado" com o tema do ma-ai (distância-tempo) no Karaté e vi imediatamente que o Sensei tinha um domínio total sobre esta área. E os ukemi de Nemoto Sensei eram uma combinação de pesado e leve ao mesmo tempo. Nunca tinha visto nada assim.

Aikidojo Zaragoza: Como é que entrou em contacto com Morihiro Saito Sensei?

Lewis: Quando vi Sensei pela primeira vez, ainda me faltava um ano de estudo de psicologia na Universidade de Londres, por isso a primeira coisa que fiz foi visitar o maior número possível de dojos de Aikido. Depois das minhas experiências no Karaté e no Judo, não consegui encontrar nada comparável em termos de qualidade nessa altura, mas encontrei um dojo perto de onde estava a estudar. Este dojo era originalmente da linha de Chiba Kazuo Sensei, mas nessa altura tinha começado uma transição para o Aikido de Saito Sensei. Treinei lá durante um ano antes de ir para o Japão no final dos meus estudos. Fui diretamente a Iwama, sem qualquer apresentação formal, e apresentei-me como estudante. O Sensei estava a dormir uma sesta e os uchi deshi que lá estavam disseram-me que sem apresentação não era possível ser aceite. Insisti em tentar falar com ele com a ajuda e tradução dos uchi deshi que estavam presentes. O meu primeiro contacto pessoal com Sensei foi quando ele estava acordado e de pijama, à entrada da sua casa, no jardim. Depois de uma troca de palavras curta e incompreensível para mim, Sensei aceitou-me como aluno.


Aikidojo Zaragoza: O que é que o fascinou em Iwama?

Lewis: O Sensei fascinou-me com o Aikido que demonstrava todos os dias. A intensidade do treino e a oportunidade de treinar com seniores que, por sua vez, tinham treinado com o fundador do Aikido, Morihei Ueshiba, foi claramente uma oportunidade única pela qual ainda estou muito grato.


Aikidojo Zaragoza: Em que é que o estilo Iwama é diferente dos outros estilos?

Lewis: Só posso comentar a partir da minha experiência limitada com outros estilos e professores, mas pelo que sei, Saito Sensei enfatizou três áreas fundamentais que este estilo de Aikido destaca.

Níveis de prática e de técnica. Sensei colocou muita ênfase na prática básica e diferenciou-a claramente de outros níveis intermédios, avançados ou de aplicação (oyo waza). Para ele, os segredos do Aikido estavam codificados dentro das técnicas básicas da arte: tai sabaki, como usar as ancas e o centro, como mover e deslocar os pés, a relação com o chão e a gravidade, a geração de força (kokyu), distâncias, ângulos e tempo (ma-ai), ki musubi (ligação), awase e muito mais. Tudo estava dentro das técnicas mais básicas, principalmente a espada (bokken). Com o treino das técnicas básicas, não estamos apenas a aprender técnica (waza), algo mais importante, estamos a treinar e a organizar o corpo, a mente e a nossa energia dentro dos parâmetros dos princípios que definem o Aikido. Desta forma, podemos ver que as técnicas kihon formam a fundação do edifício que é o Aikido. Se estes alicerces forem fracos, os níveis mais avançados ou as aplicações de combate não têm base para serem efectivos ou significativos na sua prática.

Riai. A relação entre os princípios do uso de armas e as técnicas de mãos vazias. Neste estilo de Aikido isto é fundamental e em Iwama dedicamos tempo igual a cada um: uma aula de buki waza de manhã e uma aula de tai jutsu à noite.



Aikido como Budo. Isto é mais complexo de definir. Para Saito Sensei, o Aikido tinha de ser eficaz, mas o Budo é também uma forma de perceção. Ele dizia-nos que se compreendêssemos o Budo, poderíamos compreender os pontos fortes e fracos de qualquer estilo de Aikido ou de qualquer outra arte marcial. Para mim, o paradoxo do Budo reside no facto de treinarmos toda a nossa vida para um confronto que provavelmente nunca acontecerá. Dito isto, vou contradizer-me, pois utilizei o Aikido em inúmeras situações: em conflitos verbais, emocionais e também físicos, mas o Aikido ensinou-me que não é preciso derrotar o outro para encontrar uma resolução e que na vida se ganha e se perde, são apenas pólos opostos da mesma dinâmica. Quando as pessoas me perguntam se o Aikido é eficaz, a minha resposta é: absolutamente!

-Quando as pessoas me perguntam se o Aikido é eficaz, a minha resposta é: absolutamente!-

Aikidojo Zaragoza: Como definiria o seu próprio papel no ensino do Aikido?


Lewis: Nunca tive a ideia ou a ambição de ser um instrutor de Aikido ou outra coisa qualquer, mas quando regressei à Europa depois da minha estadia no Japão, não consegui encontrar um dojo próximo que seguisse as mesmas linhas, por isso fui forçado a criar o meu próprio grupo para poder continuar a treinar. Também tinha feito muitos amigos do mundo do Aikido em Iwama e, assim que regressei à Europa, recebi convites para dar cursos. Nos primeiros dois anos tive de fazer uma transição entre a forma como me ensinaram em Iwama e a forma como me ensinaram no Ocidente, mas chegou uma altura em que percebi que ensinar Aikido é a melhor forma de o aprender. Os alunos confrontam-nos não só com questões didácticas e com a forma mais eficaz de comunicar os pontos essenciais daquilo que queremos transmitir. Eles também nos confrontam com os nossos pontos fracos: aquilo que pensamos dominar até termos de o demonstrar ou defender sob stress. Assim, a resposta simples à pergunta é que o meu compromisso com o ensino do Aikido é aprender Aikido. E, claro, a alegria que sinto ao ver as pessoas transformarem-se com esta arte.

Aikidojo Zaragoza: Falemos de didática. Em Iwama, dá-se especial importância à prática das armas, especialmente com o jo e o ken. Porque é que isso é tão importante? Qual é o seu contributo?


Lewis: O que é que o treino com armas traz? Muito! Algumas coisas que me ocorrem: para começar no Aikido, na maior parte dos dojos, começamos logo a praticar tai jutsu com os outros. Mas estudar e aprofundar os princípios de estar assente na terra, equilibrado, centrado e ligado é muito difícil quando alguém nos segura com força ou nos ataca como principiantes. No kata e no suburi podemos dedicar algum tempo a estudar estes aspectos de uma forma muito concentrada antes de tentarmos testá-los com outra pessoa sob stress. O treino diário que fazemos apenas com o kata de armas é crucial a este respeito. Pode dizer-se que o centro das técnicas é a ligação e o awase com o outro. Com as armas, tudo é mais "amplificado", pelo que as distâncias, os ângulos e os tempos (ma-ai) são mais claros. Foi dito que essencialmente todas as diferentes artes marciais são apenas variações diferentes desta área (ma-ai). Com as armas, podemos aceder a esta área mais facilmente. Relacionado com o tema do ma-ai está o aspeto da precisão e do controlo. No Aikido não usamos proteção como no Kendo, por isso temos de ser extremamente cuidadosos quando praticamos com armas. Talvez possamos escapar no tai jutsu forçando um nikyo ou sendo negligentes na sua aplicação, mas com um yokomen uchi com um bokken não podemos perder o controlo por um instante - ou feriremos o outro.  Esta qualidade de precisão e controlo transporta-se fortemente para a nossa prática de tai jutsu.

‐Mesmo assim, não posso praticar shiho nage, por exemplo, à velocidade máxima que consigo. É demasiado perigoso. -

Outro aspeto importante relacionado com o acima referido é a intensidade. Com o kumi tachi e o kumi jo, quando temos o nível correto, podemos praticar com uma velocidade e intensidade que é difícil de alcançar no tai jutsu. Com o tai jutsu isto é muito mais difícil e depende muito da capacidade dos nossos ukes. Mesmo assim, não posso praticar shiho nage, por exemplo, à velocidade máxima que consigo. É demasiado perigoso. O objetivo aqui não é apenas a velocidade em si, mas ser capaz de experimentar níveis elevados de energia e ser capaz de os conter.

Outro ponto importante que a prática com armas nos ensina é a humildade - e o respeito pelos nossos adversários! Talvez o homem grande que não sente qualquer perigo ao treinar com um homem mais pequeno ou menos forte em tai jutsu possa sentir-se em grande desvantagem com armas quando o outro é agora mais rápido e mais intenso no seu ataque com uma arma. Como budoka, não se trata apenas de uma questão de cortesia: nunca se deve desvalorizar ou julgar o outro. Esta é a criação de um suki (abertura).


Uma pequena história pessoal sobre esta questão. Sensei sempre comentou que buki waza e tai jutsu estão relacionados e que o essencial do trabalho corporal, tai sabaki e awase estão nas armas. Eu compreendia-o mas não o sentia. No terceiro ano em Iwama, lesionei-me no joelho esquerdo e só podia praticar armas de manhã. À noite, assistia às aulas mas apenas observava. Após onze meses (e uma operação) recuperei o suficiente para poder recomeçar o tai jutsu e lembro-me claramente do receio com que entrei no dojo nessa primeira noite: tinha medo de me ter esquecido de tudo! mas com o tai no henko e o morote dori kokyu ho senti imediatamente que o meu Aikido tinha dado um salto em frente! Naquele momento compreendi fisicamente o que o Sensei nos estava a explicar sobre o riai.


Aikidojo Zaragoza: Muitos de nós já conheciam os seus vídeos educativos no YouTube, onde ensina técnicas a diferentes níveis, em kihon e Ki no nagare, com repetições de diferentes ângulos e também em câmara lenta. Para os praticantes, são uma grande ajuda. Alguma vez pensaste em compilá-las num DVD?

Lewis: Sim, há anos que ando a pensar em fazer algo mais sério e profissional nesta área, mas até agora ainda não consegui reservar o tempo necessário para isso. Talvez no futuro...


Aikidojo Zaragoza: Os praticantes de outros estilos descrevem por vezes o Iwama como mais estático. Porque é que o nosso estilo é visto assim?

-Sensei era um professor exemplar no sentido em que os seus ensinamentos eram muito claros e lógicos. -

Lewis: Sensei era um professor exemplar no sentido em que os seus ensinamentos eram muito claros e lógicos. Para ele, a sequência era primeiro aprender a estar de pé, depois a andar e, finalmente, ser capaz de correr. Quando a maioria das pessoas começa a praticar Aikido, a sua relação com o chão, com o centro e com a organização do corpo está bastante desequilibrada. Nas técnicas básicas de kihon há tempo e espaço para poder estudar estes pontos essenciais e reorganizar a dinâmica do corpo, o movimento e a relação com o adversário de acordo com os princípios do Aikido. Não se trata apenas de um treino (keiko) mas também de um estudo (benkyo) e é preciso dedicar-lhe tempo. Temos de ser unos connosco próprios antes de tentarmos ser unos uns com os outros.

Para Sensei, este nível básico (kihon waza) era como uma reprogramação e era essencial antes de começar com um treino mais dinâmico (ki no nagare). Em Iwama, a ênfase no ki no nagare começava tradicionalmente a partir do sandan.

Mas respondendo à resposta. Quando  Sensei dava cursos no estrangeiro, do seu ponto de vista a quase toda a gente, faltava este nível básico, por isso era aí que ele punha o foco: muito suburi, muita técnica básica lenta com atenção e sem pôr força ou velocidade e com muitos pormenores técnicos. Tudo para trabalhar nessa área não só do "o quê das técnicas" mas, mais importante, do "como". Muitas pessoas que só têm experiência com Sensei através de cursos e seminários no estrangeiro têm uma impressão incompleta do seu Aikido, na minha opinião.


Aikidojo Zaragoza: Viveu em vários países e, graças às suas viagens e seminários em vários países europeus, está a ser criada uma vasta rede de dojos ligados sob o nome de Traditional Aikido Europe. Isto significa que um dinamarquês e um belga se entendem perfeitamente porque a forma Iwama é aplicada da mesma maneira em todo o lado. Ainda assim, vê diferenças nas formas de trabalhar entre praticantes de diferentes países?

Lewis: Sim. É curioso ver como diferentes culturas, com diferentes formas de ver as coisas, abordam naturalmente esta prática de formas características. Nos vários países onde tenho experiência, isso é absolutamente verdade. Todos nós seguimos a mesma linha, mas os cursos que dou podem ser muito diferentes, dependendo não só do nível do grupo, mas também do temperamento e da mentalidade. Como instrutor, o "awase" aqui é "ouvir e seguir" o grupo e deixar que ele me diga como vamos fazer a aula.

Aikidojo Zaragoza: Relativamente à tradição, por definição, este conceito descreve a transmissão de bens culturais entre gerações. A tradição deixa espaço suficiente para o desenvolvimento individual das pessoas?


Lewis: Boa pergunta. Uma tradição que não deixa espaço para o desenvolvimento e expressão individual é uma tradição sem futuro. Para Sensei, a transmissão que ele estava a fazer através dos seus ensinamentos de Aikido era uma tradição viva, uma tradição que ele tinha recebido de O'Sensei nos seus mais de 23 anos de deshi.


Acredito que nos aproximamos do que o Aikido é através das técnicas, mas o Aikido "em si" não se limita a ser definido por técnicas, nem acredito que possa ser acedido simplesmente copiando técnicas. O que define o Aikido que pratico não é apenas o currículo de formas, mas mais importante é o que senti inúmeras vezes como uke para o Sensei. Para mim, esse aspeto interno - como Saito fazia as técnicas - é o que dá vida às formas externas.

Se na nossa prática houver uma orientação equilibrada entre as técnicas (o exterior) e os princípios (o interior), então o Aikido pode ser um caminho de desenvolvimento pessoal no qual o Aikido é finalmente seu e não uma cópia do professor com quem aprendeu. Um Sensei no Aikido é apenas um guia para o seu próprio Aikido, não o dele. Uma coisa que me surpreendeu em Iwama desde o início foi notar como todos os sempais (godan e acima) expressavam o seu próprio Aikido, embora fossem claramente alunos do Sensei. Não eram cópias.

Assim, na minha opinião, uma tradição para se manter relevante precisa da clareza do treino básico como uma gramática do sistema, mas da abertura às possibilidades ilimitadas da arte. O treino diário que fazemos no dojo tem o seu significado e aplicação no dojo mais complexo da vida quotidiana - e é aqui que o Aikido como uma tradição viva tem muito significado do ponto de vista do desenvolvimento pessoal.


Aikidojo Zaragoza: Para terminar, uma pergunta pessoal. Como é que era Morihiro Saito Sensei? Como é que o descreveria?

Lewis: Ups!!! Para mim, Sensei tinha tantas facetas que me é difícil responder a esta pergunta em poucas palavras. A única coisa que me ocorre neste momento é que a minha dedicação a Sensei como estudante foi total e que a gratidão que sinto por ele, pelo que me ensinou, é inexprimível.



Aikidojo Zaragoza: Sensei Lewis, muito obrigado pela entrevista!

Lewis: E muito obrigado.

..................

Esta entrevista está aqui

Guerreiros de Portugal

 


Informação tirada daqui.

Senhora da Família Carvalho Alvarenga Pereira Barreto, de Guiné Bissau, ao lado da estátua de seu tataravô, o Tenente-Coronel Honório Pereira Barreto, governador da Guiné Portuguesa entre 1838 e 1859.


Honório nasceu em 1813, filho de cabo-verdiano negro, vindo ao mundo no guineense Cacheu, herdeiro de família habituada há muito ao exercício do comando. O seu pai era Sargento-mor da fortaleza de Cacheu e homem mestiço; a sua mãe, mulher negra com antepassados "portuguis", os católicos afro-portugueses de Ziguinchor. Foi educar-se a Lisboa e, regressando à terra-natal, passou a desempenhar os mais altos cargos da administração guineense. Em 1834, aos vinte e um anos, era já Provedor e Capitão-mor de Cacheu. E foi, de 1837 a 1859, ano em que morreu, Capitão-mor de Bissau - ou seja, governador da Guiné Portuguesa.


Barreto desenvolveu por toda a Guiné obra notável e realmente marcante. Reconstruiu Bolama, traiçoeiramente devastada pelos ingleses em 1839, reafirmou a presença portuguesa nas áreas ilegalmente ocupadas pelos ingleses e forçou-os à retirada. Foi fundamentalmente pela sua acção que Bolama e o arquipélago dos Bijagós retornaram à soberania portuguesa e, por isso, que são hoje território da Guiné-Bissau. Reorganizou a defesa militar, recuperou fortalezas há muito abandonadas, fortaleceu a administração e incentivou a evangelização das populações através da criação e expansão de missões cristãs. Será da maior justiça afirmar que a República da Guiné-Bissau dos nossos dias deve as suas fronteiras, em larga medida, à visão e sofrido esforço desse grande guineense e grande português que foi Honório Pereira Barreto.


À data do seu passamento, em 1859, Pereira Barreto era há muitas décadas governador da Guiné. Afirmara a soberania portuguesa, educara as gentes, criara missões, escolas e hospitais, recuperara o aparelho defensivo e expulsara o intruso inglês. Portugal reconheceu-lhe o mérito. Num tempo em que os anglo-saxões afirmavam absurdas superioridades raciais e justificavam com pseudo-ciência as brutalidades infligidas a povos de outra cor, Portugal promovia Pereira Barreto a governador de província e Tenente-coronel do exército, fazia-o comendador da Ordem de Cristo e cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. Em Lisboa, um largo da Freguesia do Beato distingue essa grande figura do Portugal africano. A Armada portuguesa honrou-o também ao dar o seu nome a uma corveta da Classe João Coutinho, a NRP Honório Barreto.


Mesmo diante de ameaças e intimidação da Inglaterra, Honório Pereira manteve o controle Português da área e ainda estendeu a sua influência. Por iniciativa sua e perante a cobiça dos Britânicos conseguiu, lutando e comprando terrenos, preservar várias parcelas de território que constituem a atual Guiné-Bissau. Graças a este processo é que Bolama se mantém guineense. O mesmo se diga da área de Casamansa.


Em 1857, Barreto cede à coroa portuguesa um território na região dos felupes de Varela que era sua propriedade particular. Em muitas ocasiões este nativo dava lições de patriotismo aos que iam da Metrópole.

Condecorado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Cristo e com o grau de Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

Após a independência da Guiné-Bissau, Honório Pereira Barreto teve sua imagem e história apagadas da memória local, sendo a Praça Inaugurada em seu nome em Bissau, renomeada de Praça Che Guevara.


O nosso caro amigo Aristides Bicho conta-nos o seguinte acerca da Marinha de Guerra e de Honório Barreto:

"Ainda conheci a fragata “Honório Barreto” quando estive na marinha de guerra.

Um reconhecimento que nos fica na memória e no coração.

O nosso lema, quando servi a MGP, e comandei um navio patrulha durante 15 meses, como oficial da reserva naval era: 
Servir sem cuidar recompensa”.

Fácil de ler mas desafiante e difícil de cumprir."

Muito obrigado pela partilha, amigo.