quarta-feira, 22 de julho de 2015

Gonçalo Mendes da Maia - O LIDADOR

Beja. Estátua de Gonçalo Mendes da Maia
Há já muitos anos a nossa augusta Associação publicava um noticiário chamado Yamabushi. No Yamabushi, tínhamos artigos sobre vários eventos, técnicas, banda desenhada, histórias de heróis portugueses e não só, etc.

Um dos artigos de que muito se falou, foi um artigo sobre O Lidador, um conhecido cavaleiro e comandante militar português. 

Este artigo não o conseguimos encontrar, mas aqui está uma pequena informação sobre este fantástico personagem. 
Nasceu em  Trastamires, que hoje conhecemos como Maia, ao pé do Porto. 
Ainda jovem torna-se um grande amigo de D. Afonso Henriques, o nosso primeiro rei.
Devido à sua vontade indomável e desafiante, conseguiu fama como grande guerreiro o que lhe valeu o cognome de "O Lidador".

Alexandre Herculano escreveu uma pequena história sobre este fantástico personagem que começa assim:

"- Pajens! Ou arreiem o meu ginete murzelo; e vós dai-me o meu lorigão de malha de ferro e a minha boa toledana. Senhores cavaleiros, hole contam-se noventa e cinco anos que recebi o batismo, oitenta que visto armas, setenta que sou cavaleiro, e quero celebrar tal dia fazendo entrada por terras da frontaria dos mouros.
Prancha de banda desenhada por José Pires em 1987.
Publicada nosemanário "O Alentejo Popular", de Beja


Isto dizia na sala de armas do castelo de Beja Gonçalo Mendes da Maia, a quem, pelas muitas batalhas que pelejara e por seu valor indomável, chamavam Lidador. Afonso Henriques, depois do infeliz sucesso de Badajoz, e feitas pazes com el-rei Leão, o nomeara fronteiro da cidade de Beja, de pouco tempo conquistada aos mouros. Os quatro Viegas, filhos do bom velho Egas Moniz, estavam com êle, e outro muiots cavaleiros afamados, entre os quais D. Ligel de Flandres e Mem Moniz - que a festa de vossos anos, Senhor Gonçalo Mendes, será mais de mancebo cavaleiro que de capitão encanecido e prudente. Deu-vos el-rei esta frontaria de Beja para bem a haverdes de guardar, e não sei se arriscado é sair hoje à campanha, que dizem os escutas, chegados ao romper d'alva, que o famose Almoleimar correr por êstes arredores com dez vêzes mais lanças do que tôdas as que estão encostadas nos lanceiros desta sala de armas.
Castelo de Beja


- Voto a Cristo - atalhou o Lidador - que não cria em que o senhor rei me houvesse pôsto nesta tôrre de Beja para estar assentado à lareira da chaminé, como velha dona, a espreitar de quando em quando por uma seteira se cavaleiros mouros vinham correr até a barbacã, para lhes cerrar as portas e ladrar-lhes do cimo da tôrre da menagem, como usam os vilãos. Quem achar que são duros de mais os arneses dos infiéis pode ficar-se aqui. 

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Ao romper d'alva, os cavaleiros do Lidador saíam mais de dois tiros de besta além das muralhas de Beja; tudo porém estava em silêncio, e só, aqui e ali, as searas calcadas davem rebate de que por aquêles sítios tinham vagueados almogaures mouros, como o leão do deserto rodeia, pelo quarto de modôrra, as habitações dos pastôres além das encostas do Atlas.
No dia em que Gonçalo Mendes da Maia, o velho fronteiro de Beja, cumpria os noventa e cinco anos, ninguém saíra, pelo arrebol da manhã, a correr o campo; e, todavia, nunca tão de

perto chegara Almoleimar; porque uma frecha fôra pregada a mão em um grosso sovereiro que sombreava uma fonte a pouco mais de tiro de funda dos muros do castelo. 

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As lanças iam feitas: o Lidador bradara Santiago, e o nome de Alá soara em um só grito por tôda a fileira mourisca. 

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Quem hoje ouvir recontar os bravos golpes que no mês de julho de 1170 se deram na veiga da fronteira de Beja, notá-los-á de fábulas sonhadas; porque nós, homens corruptos e enfraquecidos por ócios e prazeres de vida afeminada, medimos por nossos ânimos e fôrças, a fôrça e o ânimo dos bons cavaleiros portuguêses do sécuo XII; e todavia, êsses golpes ainda soam, através das eras, nas tradições e crônicas, tanto cristãs como agarenas.


Depois de deixar assinadas muitas armaduras mouriscas, o Lidador vibrara pela última vez a espada e abrira o elmo e o crânio de um cavaleiro árabe. O violento abalo que experimentou lhe fêz rebentar em torrentes o sangue da ferida que recebera das mãos de Almoleimar e, cerrando os olhos, caiu morto ao pé do Espadeiro, de Mem Moniz e de Afonso Hermingues de Baião, que com êles se ajuntara. Repousou, finalmente, Gonçalo Mendes da Maia de oitenta anos de combates!

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Foi o facto de ver um soldador envelhecido a atacar com o a força e vigor dum jovem que fez com que o inimigo vacilasse, pois julgaram tratar-se dum ato mágico.
Ao tentar reconquistar moral das suas tropas, o líder muçulmano Almoleimar contra-atacou e desferiu-lhe um golpe final mas não sem antes o velho Lidador o terminar.
A moral dos restantes guerreiros portugueses encheu-se de raiva e a moral dos guerreiros muçulmanos enfraqueceu ao ver o seu líder morto e o exercito desorganizou-se dando depois vitória ao exercito português.
Embora esta história esteja romanceada, é certo que o velho Lidador morreu combatendo. Já este facto nos serve de moral da história.

Estátua do Lidador na Maia