sábado, 11 de dezembro de 2010

Este ano que vem - mensagem de final do ano

Este ano que vem

Quantas crianças já passaram por este dojo, cresceram, casaram,
tem filhos, ou são professores?

"Quando em dúvida, volta aos fundamentos"

Saito Sensei sempre disse isto. O presente Mestre, Hitohira Saito, está sempre a referir isto. No seu último seminário na República Dominicana, ele repetiu isto vezes sem conta.

Esta frase é tão verdadeira. Quando tivermos uma dúvida em ura waza, voltamos ao tai no henko. Quando tivermos uma dúvida com as projecções, devemos voltar ao suburi, pois a projecção está conectada com a utilização do sabre. Toda técnica tem sempre um lugar onde ela começa, o seu núcleo. Devemos estudar isso incansavelmente, repetidamente. Devemos fazer isto de forma tão natural que não deixaremos de pensar nisto: a memória da técnica ficará absorvida dentro do nosso corpo.



O mesmo pode ser dito sobre a amizade. Nunca devemos renunciar em reconhecer os nossos amigos. A Lealdade, uma das virtudes de um guerreiro em qualquer civilização - e falo não apenas da guerra - nunca deve ser esquecida.

Quando em dúvida, voltar ao básico: quem sempre foi meu amigo? Quem me ajudou sempre? Quem confia em mim com as chaves da sua casa? Quem sabe os meus segredos e os mantém trancados em segurança para que se um dia eu tenha necessidade de algum assunto urgente ele me possa me ajudar? Quem nunca disse mal de mim? Quem me mantém no caminho certo? Quem sorri quando eu apareço e nunca tem pressa de se afastar, ou me faça ir embora? Estas e outras são as qualidades de um amigo.

Mesmo os verdadeiros amigos têm falhas graves e assim devemos ajudá-los com estas, calmamente e sinceramente, levando os nossos amigos pelo caminho correcto. Quando estivermos em dúvida sobre como ajudá-los, devemos voltar aos fundamentos.

Se alguém está constantemente a comentar depreciativamente sobre outra pessoa, apontando erros ou características de personalidade, com certeza não é um amigo. Mas mesmo esta pessoa pode ser ajudada por um amigo de verdade para perceber o quão errado e contraproducente é.



O falecido Grande Mestre Saito disse que "Aiki é uma mente possuída de paz e harmonia" (pg35). Ele também disse, "Entrar em estado de Ki-Musubi ao entrar num dojo é desejável, mas não á fácil.”

Ki-musubi, o dar um nó com o Ki, é Aiki, a harmonia do Ki. Quando se tem amigos está-se num estado de Ki-musubi com eles. A nossa energia, o nosso espírito está ligado a eles.



A Honestidade sendo uma outra qualidade muito importante e difícil ter como pessoa e principalmente como um guerreiro está sempre a ser testada até ao limite. Quando em dúvida, voltar aos fundamentos: Estou a ser honesto para com o meu amigo? O meu Aiki é puro para com os meus amigos? Estou a ser honesto na minha lealdade para com os meus amigos?

Comparado com estes e outros estudos profundos da arte do Aikido, a execução de técnicas parece tão fácil. Mas se o nosso coração é verdadeiro, se formos honestos e leais para connosco e para com os nossos amigos, as nossas técnicas fluirão lindamente e de forma precisa e todos nos irão copiar e respeitar-nos.

Num dojo de alunos cheios de boa vontade, honestos e leais (estudantes da Via da Amizade), a técnica estará seguramente no seu melhor. O rompimento dessa harmonia é sempre uma possibilidade e, como tal, como no caso das técnicas, devemos aplicar uma contra-técnica de forma a trazer de volta o controle da harmonia e forçar a discórdia para fora.

Um novo ano aproxima-se e muitas dificuldades estão iminentes para este país e para o nosso dojo. Como dojo - um lugar onde se estuda o Caminho – creio que teremos pela frente desafios muito interessantes. Eu peço a todos que estudam comigo, para se lembrarem dos ensinamentos do falecido grande mestre nesta matéria e manter este dojo em plena harmonia.



A Arrogância

No momento em que pensamos que somos melhores do que alguém, nesse momento nasce a arrogância.
Na Wikipédia a arrogância está definida assim:

“Arrogância é o sentimento que caracteriza a falta de humildade. É comum conotar a pessoa que apresenta este sentimento como alguém que não deseja ouvir os outros, aprender algo de que não saiba ou sentir-se ao mesmo nível do seu próximo. São sinónimos, o orgulho excessivo, a soberba, a altivez, o excesso de vaidade pelo próprio saber ou o sucesso.”

Podemos sempre pensar, «eu não sou arrogante». Só este pensamento, é um pensamento que nos trai.

O que temos de pensar é: eu sou arrogante! De que forma sou arrogante?

Ao fazer uma auto-análise neste sentido, iremos ficar surpreendidos. Esta auto-análise só é possível se tivermos uma certa humildade, claro está. Mas como a humildade é o oposto da arrogância, já vemos o difícil que será fazer isto.

Numa forma mais simples, devemos fazer-nos as seguintes pergunta: estou-me a sentir superior aos meus amigos? Menosprezo os meus amigos? Acho que eles são menos evoluídos do que eu?

Devemos pensar nisto em profundidade e detalhe.

A vida é tão curta mas dentro deste minúsculo espaço de tempo que é esta vida, muitos problemas aparecem.

Recentemente um grande amigo nosso, com um coração de outro, trabalhador, bom irmão e filho, estava a andar de bicicleta com os seus amigos e um grande camião passou-lhe por cima, enrolando-o completamente nas rodas de trás. As únicas partes do seu corpo que ficaram intactas foram a cabeça e os órgãos interiores. Contudo, ele conseguiu sobreviver embora só tivesse 5% de probabilidade para tal. Infelizmente, tiveram de lhe amputar uma perna.

Num pequeno momento tudo pode acabar.

Ele disse que conseguiu sobreviver porque pensou nos seus pais, o quanto iriam sofrer por perder outro filho. Escreveu-nos depois a agradecer pelos ensinamentos recebidos neste dojo. Foi graças aos ensinamentos que recebeu que conseguiu arranjar forças para lutar.

Ficamos todos muito tristes quando recebemos a notícia do seu terrível acidente. Contudo, foi muito bom saber que o que ele aprendeu aqui foi, e é de grande ajuda na sua luta contra a morte. Rezamos para que essa luta continue a ser ganha passo a passo.

Já passaram muitos de alunos por este dojo. De facto, milhares. A maior parte foi-se embora, tal como acontece em qualquer dojo e qualquer actividade (judo, karate, yoga, musica, arte, surf, windsurf, alpinismo, culinária, etc.). Contudo dos que ficaram, nasceram professores excelentes tecnicamente e como pessoas. É bom ver isto.

Muitos destes casaram-se com parceiros que encontraram dentro do dojo, mostrando também que este dojo é um lugar onde pessoas que procuram a harmonia e a amizade se dão bem. E isto é bom ver.

Houve outros que se foram embora, pois casaram-se e as obrigações familiares impedem-nos de vir aos treinos. Contudo, visitam muitas vezes o dojo para cumprimentar os seus amigos. E isto é bom de ver.

Muitos praticantes, individuais e casais, mudaram-se para outros países, sendo agora impossível continuar a praticar connosco. Mas, quando nas férias visitam Portugal, vêm sempre ao dojo visitar os seus amigos. Alguns trazem já os seus filhos para introduzi-los aos seus amigos. Normalmente vêm com palavras de agradecimento pelos ensinamentos e amizade que receberam aqui. E é um momento alegre para todos.
Também os pais dos antigos alunos agradecem. Nas festas de casamento de muitos alunos que se casaram “dentro” do dojo é sempre comum ouvir os pais a elogiarem o Aikido e o bem que o Aikido fez aos seus filhos e o quanto estão agradecidos. Isto é bom e é saudável.

Já passaram 21 anos desde o nascimento da organização embora ensinemos Iwama Ryu há 26 anos.

Tenho o maior prazer e honra em ver muitos dos meus alunos que agora são verdadeiros amigos, a continuar a treinar e a ensinar os seus kohai. O prazer é maior quando vejo que todos são diferentes na sua forma de estar e ensinar. E isto é fantástico. Estes são o núcleo da nossa organização pois tudo vem deles.

Espero que os novos alunos olhem para todos os antigos com respeito e apreciação. Espero também que descubram o quanto trabalho abnegado e sincero eles deram para o nosso dojo e para a nossa organização. Este trabalho, estas contribuições, foram dadas com a maior das alegrias e humildade. Ninguém poderá fazer melhor do que eles, por tantos anos seguidos.

E isto é uma bênção.

Um dojo é assim criado.

Agradeço-vos do fundo do coração meus amigos, e curvo-me profundamente em gratidão perante vós, no final deste ano.