Agora que as técnicas do Aiki já não são usadas para a guerra, a maneira de ensinar precisa, necessariamente, de mudar.
Muitos anos atrás, eu era um professor extremamente rigoroso e os antigos senpai várias vezes lembram os novos praticantes deste tempo.
Lembro-me de que muitos de nós tentámos imitar a vida de Saito Sensei, lutando nas ruas contra os malfeitores, gritando com nossos alunos e corrigindo severamente o mínimo erro em sua técnica ou etiqueta.
Os acidentes nas aulas eram mais comuns naquela época. Lembro-me de aplicar imediatamente e com força uma técnica no aluno que dissesse "isso não funciona comigo". Simplesmente não suportava que um aluno me desafiasse de alguma forma. Como resultado, em alguns círculos, eu tive a fama de um professor estrito e perigoso.
Morihiro Sensei sabia de tudo, de alguma forma (havia mais como eu), e um dia em Iwama enquanto estava sentado com os uchideshi, disse-nos que o tempo de brigar nas ruas havia terminado e que tínhamos que ser mais gentis com nossos alunos.
Ouvir isso assustou-me bastante. Levei cerca de dois a três anos para entender o que o sensei disse e mais alguns para começar a implementá-lo. Ainda hoje tenho o desejo de ser extra-rigoroso muitas vezes.
Voltando a Iwama todos os anos, vi o Grande Morihiro Sensei mudar, bem como a rigidez de seus ensinamentos. Mas também vi que o número de estudantes uchideshi (estudantes residentes) aumentava, assim como os participantes em estágios internacionais.
Os números não são importantes, diria também Morihiro Sensei, mas vimos um claro aumento no número de pessoas que realmente queriam aprender a técnica de O'Sensei.
É mais difícil ensinar gentilmente do que estritamente, pois leva mais tempo para ensinar e para aprender. Para ensinar gentilmente, a paciência deve ser exercitada o tempo todo, constantemente, sem falhar. Contudo, os resultados nos alunos são duradouros e de muita qualidade.
Se ensinarmos gentilmente, os alunos serão mais gentis com os seus kohai e passarão de bom grado, e com entusiasmo, os conhecimentos para os amigos. Além disso, também aproveitarão mais o treino e todos os dias esperarão ansiosamente pelo começo dos treinos.
Um professor deve dar 0 exemplo. Esta é a parte mais difícil do ensino.
Há uma diferença entre um professor de Budo e um instrutor de desporto. Mesmo que um instrutor de desporto também deva ser um guia moral para um desportista, esta área não é considerada uma característica necessária – oficialmente - de um instrutor. Um instrutor deve ser um bom técnico e preparar o desportista para uma competição, ou guiá-lo nalgum tipo de programa desportivo.
Um bom professor de Budo, no entanto, deve mostrar boa etiqueta dentro e fora do dojo e deve ser cortês com todos os alunos. Ele deve abster-se de insultar os alunos que não entendem bem os ensinamentos, pois cada pessoa gasta um tempo diferente para aprender.
Com muita frequência, os alunos que demoram mais para aprender são os mais persistentes e os que sobem mais na hierarquia. Ao longo dos anos de ensino tenho visto isto, repetidamente. Geralmente, os alunos que aprendem rápido também param de treinar muito cedo e, portanto, nunca alcançam uma classificação mais alta ou se tornam professores.
Se um professor de Budo começa a perder alunos, ele deve analisar a situação:
• Será por causa de dificuldades económicas dos alunos?
• Será porque o professor não está a ensinar claramente?
• O professor está a mudar as técnicas que os antigos professores deixaram para estudar?
• O professor insulta os alunos ou os amigos dos alunos?
• O professor não tem etiqueta adequada?
• O professor já não é um exemplo para seus alunos?
Para que um aluno respeite e aprenda com um professor, ele deve respeitar o professor. No entanto, é também isso que o professor deve fazer!
Ter boa técnica e ensinar com pontos técnicos adequados é muito bom, mas o dever de um professor de Budo vai além disso; ele deve ser um exemplo dentro e fora do dojo e na sociedade.
O exemplo que um professor de Budo mostra será seguido pelos alunos e elogiado pelas famílias e amigos dos alunos. Um bom professor será amado pelo aluno.
Ainda estou a trabalhar nestes pontos, pois é uma maneira muito difícil de viver.
Ser amado pelos alunos também é amar os alunos.
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A good
teacher sets an example, and …. is loved and respected.
Now that
the techniques of Aiki are no longer used to make war on others, the way of
teaching has to change, accordingly.
Many years
ago, I was an extremely strict teacher and the old senpai often remind the new
practitioners of this.
I remember
that many of us tried to imitate the life of Saito Sensei, fighting on the
streets against evildoers, scream to our students and correct sternly at the
minimum error in their technique or etiquette.
Accidents
in the class were more common, back then. I remember that I would immediately,
and forcefully, apply a technique on a student who would say, “this doesn’t
work on me”. I simply could not stand
that a student would challenge me in any way. As a result, in some circles, I
had the fame of a strict and dangerous teacher.
Morihiro
Sensei knew everything, somehow (there were more like me), and one day in Iwama
while seating down with the uchideshi, told us that the time of fighting in the
streets was over and we had to be more kind to our students.
Hearing
this quite startled me. It took me about two to three years to grasp what
sensei was saying and a few more to start implementing it. I still have the
wish inside of being over rigorous many times.
Going back
to Iwama every year, I saw the Great Morihiro Sensei change, as well as the
strictness of his teaching. But I also saw that the numbers of uchideshi
students (live-in students) increased as well as the participants in
international seminars.
Numbers are
not important, Sensei would also say, but we did see an increase in people
genuinely wanting to learn O’Sensei’s technique.
It is more
difficult to teach kindly than to teach strictly, as it takes longer to teach
and to learn. To teach kindly, patience must be exercised at all times,
constantly, without fail.
If we teach
kindly, the students will be more kind to their kohai and will willingly pass
on the knowledge to their friends, enthusiastically. Also, they will enjoy
training more and every day will anxiously wait for training time.
A teacher
must set an example. This is the most difficult part of teaching.
There is a
difference between a Budo teacher and a Sports Instructor. Even though a Sports
Instructor should also be a moral guide to a sportsman, this area is not
regarded as a necessary characteristic of an Instructor. An instructor must be
a good technician and prepare the Sportsman for a competition, or lead him in
some type of sports program.
A good Budo
teacher, however, must show good etiquette inside and outside the dojo and must
be courteous to all students. He must refrain from insulting the students who
do not understand the teachings well, for every person takes a different time
to learn.
Very often,
the students who take longer to learn are the most persistent ones and the ones
who go higher up the ranks. I have seen over and over. Generally, students who
learn fast also stop training very early and so never achieve higher rank or
become themselves teachers.
If a Budo teacher
starts loosing students, he must analyze the situation:
· Is it because of economic
difficulties?
· Is it because he is not teaching
clearly?
· Is the teacher changing the
techniques that the ancient teachers left for us to study?
· Is he insulting the students or the
students’ friends?
· Is he lacking in proper etiquette?
· Is he no longer an example to his
students?
In order
for a student to respect and learn from a teacher, he must respect the teacher.
However, this is also what the teacher must do!
Having good
technique and teaching with proper technical points is very good, but the duty
of a Budo Teacher goes beyond this; he must be an example inside and outside
the dojo and in society.
The example
a Budo teacher shows will be followed by the students and praised by the
students’ families and friends. A good teacher will be loved by the student.
Myself, I
am still working on this, as it is a very difficult Way to live.
To be loved
by the students is also to love the students.