Decorreu hoje, dia 11 de Janeiro, o kagami biraki de 2014.
Este evento teve a participação de 20 praticantes de vários dojos da nossa Associação.
O evento começou com a saudação tradicional, seguido de um discurso do mestre Tristão que colocaremos mais abaixo.
Depois o mestre falou sobre a importância das presenças que cada um tem o dever de assentar quando vem treinar, pois só assim é que se consegue saber quais foram os meses em que se treinou mais.
No ano de 2013, por exemplo, treinaram-se 2771 horas, só no honbu dojo. Os kyu praticaram 1374 horas, os yudansha praticaram 1255 horas e as crianças participaram em 142 treinos.
Depois seguiu-se a entrega de vários certificados a diversos praticantes e apoiantes do nosso dojo.
O presidente e o tesoureiro receberam um certificado de gratidão pelo trabalho exemplar que fizeram para renovar a nossa Associação durante o ano passado. Este trabalho, continua.
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A mestre Monica a receber o seu certificado de assiduidade |
Não praticantes tais como a Srª Dª Madalena Couceiro Bicho e a Srª Dª Alida Nunes, através dos anos têm apoiado a nossa prática de inúmeras formas. Por isso é pouca coisa a pequena homenagem que lhes foi prestada neste dia.
Os praticantes mais assíduos também receberam um pequeno certificado de assiduidade.
A mestre Mónica treinou 172 horas, o Luis Marques 171, o Antonio Dente - Secretário da APASD - treinou 156, seguido pelo tesoureiro, Nuno Rufino, que treinou 155 horas. Também o Daniel Ribeiro treinou 154 horas e por isso recebeu um certificado de assiduidade também.
Depois da entrega dos certificados, procedeu-se ao honno enbukai onde participaram tanto kyu como praticantes yudansha e foram demonstradas várias técnicas interessantes. Ikkyo, nikyo, sankyo com as suas variações, kote gaeshi nas mais diversas formas, irimi nage demonstrado pelo professor Jorge Feio, futari dori pelo mestre Miguel Serra, interessantíssimos ken awase demonstrados pela mestre Mónica Sousa, estavam entre as técnicas demonstradas neste enbukai. O mestre Tristão terminou o enbukai demonstrando a evolução das técnicas desde a forma básica até às mais avançadas desenvolvendo-se assim o Takemusu Aiki.
Terminou o enbukai e logo se começou a preparar as mesas para a festa. Foi muito agradável ter a presença de muitos dos familiares dos praticantes que não só assistiram a toda a demonstração, como também participaram na festa.
Um grande bem haja a todos pela ajuda e participação e muitos parabéns aos que receberam os certificados.
Discurso do mestre Tristão da Cunha
"Nos outros anos já tenho explicado a razão do kagami biraki
e dos seus símbolos dentro da cultura Japonesa. Kagami significa espelho e
biraki vem de hiraki que significa abrir. No nosso blogue está explicado em
mais detalhe donde vem esta expressão.
Desta vez quero apenas expressar a importância que devemos dar a uma das
explicações desta expressão. Esta
explicação diz-nos que devemos olhar para nós mesmos, que devemos reflectir
sobre as nossas acções, olhando para dentro de nós tentando encontrar as razões
dos nossos maus comportamentos.
Todos temos maus comportamentos; uns mais visíveis aos olhos
dos nossos familiares, dos amigos ou até mesmo de estranhos. O Budo – a Via
Marcial – ensina-nos, através duma prática austera a, primeiramente, reconhecer
estes maus comportamentos. Não nos leva a parte nenhuma manter estes
comportamentos. Os maus comportamentos levam à maldade. A maldade é o oposto ao
estudo do Budo. Como estamos a estudar aikido e, ainda mais, o aikido
tradicional, devemos tentar manter ao máximo a maldade longe dos nossos
pensamentos e acções.
Por exemplo: querer mal a alguém: É maldade. Dizer mal de
alguém: é maldade.
“Tramar” alguém: É maldade. Eu sei que eu também sou assim.
Mas está mal. É incorrecto e nada próprio para um estudo real do Budo. A
maldade cerra os olhos do estudante do Budo a um desenvolvimento tanto exterior
como interior.
Lealdade, etiqueta, a noção de gratidão - esta tão ligada à honra - a conducta correcta
em todos os sentidos. A evitação da preguiça e do conflicto, seja ele físico ou
oral é essencial para continuar com um estudo harmonioso da nossa arte. No fim
de contas, o Ai, da palavra aikido, significa Harmonia.
O Bushido, ou seja o Código dos Samurai, embora esta não
seja a tradução literal, salienta a frugalidade, a lealdade, o domínio das
artes marciais, a honra e a morte.
A morte hoje em dia não é algo que alguém na sua capacidade
normal, procure. Mas ainda existe a procura da morte no nosso aikido: a procura
da morte do nosso ser incorrecto e imperfeito. A morte da nossa má técnica. A
morte dos nossos vícios pessoais e vícios técnicos.
Quanto aos outros aspectos, como a frugalidade, sabemos que
a economia do nosso dinheiro, produz um extra que podemos usar em caso de
necessidade. Assim mesmo, a poupança da energia durante a execução das técnicas
é absolutamente necessário para uma correcta aplicação da técnica do Aikido.
A lealdade, hoje em quase completo desuso, é realmente um
aspecto que muito estimo e sei que é extremamente difícil de cumprir. Como
quase nenhum de nós tem honra, ninguém considera ter necessidade de ser
realmente leal a alguém. Através da nossa práctica, temos de mudar isto. É
imperativo.
O domínio das artes marciais. Bom é exactamente isto que
estamos a fazer em cada treino. Por isso, a preguiça é algo a evitar. Ainda que
estejamos cansados, tristes etc. devemos continuar, perseverar e ir treinar. Teremos
sempre tempo para estar com os amigos, com o/a namorada, para sair, para estudar.
Nunca devíamos faltar a um treino.
Sem treino, nunca haverá domínio da técnica.
O aspectos mais conhecidos do código do Samurai são os
seguintes:
Gi: justica e moralidade, atitude directa
Yuu: coragem, bravura heroica
Jin: compaixão, benevolência
Rei: polidez e cortesia, amabilidade
Makoto: sinceridade
Meiyo: honra, glória
Chuu: dever e lealdade
“A vida de alguém é limitada; a honra e o respeito
duram para sempre.”
Este é supostamente um dizer do grande samurai Myamoto
Musashi
Devemos pensar profundamente nisto.
Humildade, justiça, lealdade, coragem, ser fiel à palavra
dada, generosidade, caridade, proteção dos mais fracos e desfavorecidos. Ser
defensor do direito e do bem, contra a injustiça e contra o mal. Estes também
eram os ideais dos nossos cavaleiros medievais. Como vemos não há grande
diferença entre os ideais dos samurais e os ideais Europeus.
Imaginem agora que o nosso dojo, e por dojo quero dizer
todos os sócios de Portugal Aikishurendojo, fosse feito de praticantes que
integrassem todas estas qualidades, além, claro está, da técnica pura, forte e
sem erros. Seríamos realmente um dojo cheio de integridade e virtudes, um
verdadeiro exemplo para todos os dojos do mundo. Este é o meu objectivo.
Tornar-me uma pessoa que possa servir de exemplo a todos os outros e ajudá-los
também a conseguir alcançar estas virtudes ou até empurrar os outros para que
se transformem mais rapidamente em seres virtuosos, íntegros, tecnicistas
perfeitos e de quem depois todos possamos também aprender.
Vamos todos estudar para isto durante este ano de 2014.
Muito obrigado"