Leiam este pequeno artigo sobre um bom homem. Uma pessoa exemplar.
《Minha singela homenagem ao "médico dos pobres"
DR. ANDRÉ DE BRITO TAVARES
pai do meu Director, Eng. André Tavares
“…é uma casa muito linda e muito antiga, viveu aqui um grande médico, o Dr. Tavares. Diz a minha mãe que nunca levava dinheiro aos doentes pobres pela consulta e que ainda lhes dava medicamentos”. - Carmen Maria Lopes Movilha
O médico dos pobres, diria eu, confirmando a Carmen.
Tive a felicidade de o conhecer e com ele conviver, aí pelo ano 1954, tinha eu 14 anos, na Redacção do “Brados do Alentejo”.
Pai do nosso Director, o Eng. André Manuel de Castro Lobo Pimentel Brito Tavares, por lá passava e se entretinha a conversar com o Eng. Manuel Bicker Pimentel . Lia os jornais regionais que recebíamos, apreciava e comentava os artigos a publicar no jornal, tinha sempre palavras e um falar bonito para a Menina Rita e para este pingalho.
Não me cansarei de elogiar e render homenagem a toda esta família do “Brados”, onde aprendi a ser homem.
Algumas vezes fui seu doente e sempre ele tinha as portas abertas a toda a gente de Estremoz, os pobres enchiam-lhe a sala.
Tinha uma voz muito pausada de pessoa carinhosa, um sorrir de homem bom, um rosto cativante.
Um dia, vejam lá o destino, perguntou-me se lhe podia fazer um recado. Disse-me para eu no dia seguinte ir ter com Ele à casa que a Carmen tão bem enquadrou na sua máquina.
Entrei e levou-me logo para a biblioteca que ficava ao lado esquerdo da entrada.
Bem, maior só a Biblioteca do senhor Pais, na Câmara. As obras encadernadas a couro e lombadas de nomes dourados mostravam que ali tinha nascido a ciência, tal a quantidade de livros, principalmente em francês e inglês que nos falavam de Medicina e outras matérias.
Literatura e Poesia portuguesa, era obra, não falhava qualquer escritor.
E eu paquete de recados, mal sabia ainda que viria no futuro a gostar tanto de ler e aprender.
Atónito e sem saber que desafio o Doutor André me ia colocar, traz-me uns calhamaços e não me pergunta, ordena-me: “-Vais fazer a relação da minha biblioteca.”
Constava do nome da obra, o autor, o ano, a edição, a língua e o número de páginas.
E eu, 14 anos, lá me desenrasquei, sem horário, queria voltar o mais breve para a Redacção, quando tinha fome ia até à cozinha.
Ele, quando acabei o trabalho, me gratificou e me elogiou. A gratificação foi efémera, esqueci. As palavras são perenes ainda no meu pensamento:
“Obrigado, Mário, fizeste um bom trabalho. Os meus livros agora têm um pouco de ti.”
O Doutor André Tavares, “o médico dos pobres”, foi lembrado 60 anos depois do seu desaparecimento. Encontrei o que segue nas publicações da Câmara Municipal de Estremoz:
«Estremoz homenageou o Dr. André de Brito Tavares
Terça-feira 06 de Nov de 2012
Realizou-se no passado dia 4 de novembro uma cerimónia pública de homenagem ao Dr. André de Brito Tavares, organizada em conjunto pelo Núcleo da Liga dos Combatentes, pela Delegação da Cruz Vermelha Portuguesa e pela Câmara Municipal de Estremoz.
Conhecido como "o médico dos pobres", o antigo combatente da I Guerra Mundial, foi durante mais de vinte anos o médico das famílias mais carenciadas, sendo agora homenageado com o descerramento de uma placa evocativa, na Rua 5 de Outubro, na casa onde viveu grande parte da sua vida.
Durante a homenagem o Vereador da Cultura, Arquiteto José Trindade, proferiu algumas palavras de agradecimento à família e ao grande samaritano que foi o Dr. André de Brito Tavares.»》