Jaime Duarte de Almeida |
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O Cabo 80
Jaime Duarte de Almeida, o famoso Cabo 80, cumpriu comissões de serviço em Angola, Moçambique e na Guiné, onde participou em dezenas de operações. Reconhecidamente temerário, sempre indiferente ao perigo, pleno de reflexos o que aliado à sua resistência fisíca exemplar, tinha, não raras vezes, de ser controlado o seu ímpeto e voluntariedade, para não se expôr em demasia. Aliás, na Guiné, numa determinada operação, já referenciado pelo inimigo de outras batalhas, conhecedor da sua valentia e manuseamento da ML (Metralhadora Ligeira), pretendeu capturá-lo, tendo sido ouvidas indicações para tal com a indicação de estar sem munições.
O seu oferecimento para a Guiné, foi mesmo voluntário, já como 1ºCabo , e foi aqui que mais se distinguiu, como alguns trechos da Portaria do seu louvor da Cruz de Guerra de 2ª classe demonstram:
"Na operação “TUBARÃO”, que tomou parte como voluntário, quando do primeiro contacto com elementos IN, imediatamente correu para a frente da coluna onde com fogo eficaz protegeu a manobra de envolvimento do pelotão em que ia integrado, apesar da posição em que se encontrava estar a ser batida pelo fogo inimigo.
Na operação “ARGUS”, mais uma vez mostrou coragem, sangue frio e agressividade excecionais quando a sua seção manobrava debaixo de fogo inimigo, tendo abatido um elemento inimigo e possibilitado a captura da sua arma.
Noutra operação, apesar de ferido no primeiro contato com o inimigo, manifestou o desejo de prosseguir a operação até ao fim, contribuindo com a sua presença para manter o elevado moral dos seus camaradas, colaborando assim no êxito da missão, perfeitamente demostrado no número de elementos abatidos e quantidade de material capturado.
Às qualidades de combatente referidas, alia o Pcabo Para-quedista Jaime de Almeida, uma vontade de bem cumprir em todas as situações e dedicação às Tropas Para-quedistas patenteadas na longa permanência nas fileiras."
A sua famosa maneira de em pé, como apontador da ML, para obter mais rendimento da arma, era sempre dos primeiros na manobra e fogo do seu pelotão.
Mais tarde, viria a ser agraciado com outra Cruz de Guerra, de 3ª classe, da qual transcrevemos o louvor:
"Porque no decorrer da operação “JOVEM ZAGAL II” praticou actos demonstrativos de extraordinária coragem, rara decisão, serena energia debaixo de fogo, sangue frio, desprezo pelo perigo e ousadia com evidente risco da própria vida.
- Seguidamente protegeu o seu camarada até que fosse efectuada a reparação da avaria e após remuniciamento contribuiu decisivamente para pôr termo à emboscada.-
Na primeira fase da operação, em que tomou parte sem tal lhe competir e para a qual se ofereceu voluntariamente, tendo as nossas tropas sofrido uma emboscada em que o inimigo actuou com grandes efectivos e potencial de fogo e de que resultaram baixas para as NT este militar actuou decidida e energicamente, com extraordinária coragem e desprezo pelo perigo. Debaixo de intenso fogo e verificando que um seu camarada se encontrava com a arma encravada e prestes a ser capturado pelo inimigo, avançou decidida e ousadamente em sua direcção, apesar de só dispor de uma fita de metralhadora, conseguindo pô-lo em debandada depois de causar baixas. Seguidamente protegeu o seu camarada até que fosse efectuada a reparação da avaria e após remuniciamento contribuiu decisivamente para pôr termo à emboscada.
Ainda debaixo de intenso fogo adverso e verificando que um seu camarada atingido mortalmente se encontrava quase ao alcance do inimigo, deslocou-se até junto do seu corpo, indiferente ao perigo e com grave risco de vida, arrastando-o até à posição das NT demonstrando mais uma vez as sua excepcionais características de camaradagem, espírito de sacrifício e coragem.
Na segunda fase e tendo sido substituído conforme planeamento da operação, o destacamento de que fazia parte, manteve-se na operação, contribuindo decisivamente para o êxito obtido e de que resultou a morte de seis elementos inimigos e grande número de feridos e a captura de sete armas, entre as quais um RPG-2.
Encontrando-se as NT emboscadas num trilho e fazendo parte da equipa da vanguarda, verificou a aproximação de um grupo armado de cerca de 20 elementos procedendo o resto da coluna inimiga, e dos quais o primeiro elemento era portador de uma granada de mão pronta a ser accionada.
-Com decidida agressividade e ousadia lançou-se na perseguição dos restantes terroristas, mantendo continuamente um fogo cerrado, apesar do fogo de resposta feito pelos elementos do grosso da coluna IN.-
Demostrando extraordinária calma e sangue frio permitiu a sua aproximação a cerca de cinco metros, após o que se levantou no trilho abrindo fogo tendo abatido e ferido grande parte dos elementos inimigos, apesar de ter sido ferido ligeiramente por um estilhaço da granada lançada por elemento inimigo da vanguarda.
Com decidida agressividade e ousadia lançou-se na perseguição dos restantes terroristas, mantendo continuamente um fogo cerrado, apesar do fogo de resposta feito pelos elementos do grosso da coluna IN.
Pela sua acção de excepção, que contribuiu decisivamente para o êxito obtido e pelas qualidades de rara valentia, coragem, decisão, espírito de camaradagem e abnegação, evidenciadas e confirmativas de anteriores feitos, o 1º. Cabo Para-quedista nº 85/RD ALMEIDA demonstrou excepcional valor de combatente nato, honrado e ilustrando as Forças Armadas e as Tropas Para-quedistas e afirmando virtudes extraordinárias."
*Foto: junto ao General Spínola, o Cabo 80 ao centro, ao seu lado esquerdo, é visível o Capitão Terras Marques, Comandante da Companhia 122.
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